Na décima edição da ”Coluna do Guga”, assinada pelo jornalista Gustavo Demétrio, o leitor terá a análise sobre o técnico Jason Kreis, à frente do time sub-23 dos Estados Unidos, que está disputando o Pré-Olímpico de 2021 e não passa uma boa impressão, mesmo com um elenco de muita qualidade
Há dois anos, exatamente em março de 2019, a Federação Norte-americana de futebol nomeou Jason Kreis como técnico do time sub-23, que disputaria competições importantes da base, entre elas o Pré-olímpico, com inteção de recolocar o país de volta aos Jogos após duas edições fora. Àquela altura, Kreis havia desembarcado no cargo pela moral que construiu quando era jogador e como técnico no início de carreira, afinal vinha de trabalhos tenebrosos, primeiramente no New York City e depois no Orlando City.
Comandando a equipe nova-iorquina na temporada de estreia do time na Major League Soccer, em 2015, Kreis permaneceu por 35 jogos, com uma média de 1.6 pontos por partida, não conseguiu vaga no mata-mata da liga e foi uma das piores defesas à época. Foi demitido no mesmo ano. Posteriormente, assumiu o Orlando City, na metade do campeonato 2016, onde ficou até meados da MLS em 2018. Por lá, nenhuma classificação para os playoffs e uma média de 1.22 pontos por jogo, com seu trabalho mais uma vez sendo interrompido no antes do final da temporada. Em comparação com outro técnico muito criticado na realidade do Soccer, Frank de Boer, quando esteve a frente do Atlanta United, entre 2019 e parte de 2020, teve 1.78 de pontos por partida e dois títulos.
Nenhum técnico com esse retrospecto recente teria credenciais fortes para assumir um trabalho tão delicado e precioso quanto esse de ajudar a moldar os jovens americanos, que vão surgindo aos montes e cada vez com mais qualidades com a bola no pé. Porém, a federação apostou no nome de ”costas largas”, com um passado bem superior ao que vinha imediatamente sendo apresentado.
Voltando mais ainda no tempo, Jason Kreis já teve trabalhos com relevância na carreira. Foi campeão da Major League Soccer com o Real Salt Lake, além de alcançar um vice da mesma competição e outra final sem sucesso na CONCACAF Champions League, a primeira de um clube americano na competição desde o LA Galaxy no começo dos anos 2000. Esses feitos há quase uma década ou mais – a depender do torneio citado.
Além de ter apostado no passado como técnico, os dirigentes americanos obviamente também olharam para Kreis como alguém que foi um jogador de sucesso e que poderia colocar uma certa organização a esta geração. Em sua carreira como atleta, ele colecionou prêmio de MVP da MLS em 1999, além de deter a marca de ser o 5º maior artilheiro da história da temporada regular da liga, com 108. Também foi o primeiro atleta a chegar a marca de 100 gols na competição.
Outro ponto importante nisso, é que os americanos têm um respeito muito grande com os que foram ex-jogadores e que desbravaram a MLS, em tempos de recente criação da liga. Porém, no caso, respeitaram demais ao colocá-lo no cargo.
Kreis é o típico técnico que já teve enormes sucessos no passado e não consegue mais ser o mesmo, devido a evolução do futebol em alguns conceitos. Por isso, é possível fazer paralelos com movimentos que aconteceram em carreiras de outros vencedores em tempos mais distantes e atualmente são muito questionados, apesar das inúmeras chances que são dadas. José Mourinho é o caso mais marcante.
Uma pena para jogadores como Jackson Yueil, Sam Vines, Saucedo, Sebastian Soto, Jonathan Lewis, entre outros, que até agora não viram suas potencialidades afloradas à nível de seleção de base. Inclusive, a cabeça desses e de muitos outros atletas também na mesma situação, devem doer, porque este problema persistirá até mesmo quando eles subirem de categoria para seleção principal, afinal, Berhalter, com seu outro contexto, também não consegue tirar o que é possível de uma geração jovem.
Quem deu sorte nessa história, no entanto, foram os jovens que ainda estão por chegar nesta categoria nos próximos anos, pois Jason Kreis vai se juntar ao Inter Miami como assistente técnico futuramente.
(Capa: Arte Território MLS)