Na coluna “Além da MLS” desta semana, abordaremos um tema polêmico: é possível que algum dia a principal liga dos Estados Unidos aceite rebaixamento? Será que algum dia os times da USL terão chances de subir para a MLS?
Um dos maiores questionamentos para quem não é fã da MLS e até mesmo para alguns que acompanham a liga um pouco mais de longe é a questão do rebaixamento. Por que não existe rebaixamento?
Esse questionamento, inclusive, é uma bandeira levantada por muitos americanos, que imploram pelo “PRO/REL”, que traduzindo significa “Promotion and Relegation”, promoção e rebaixamento, em português.
Para entender o porque de a MLS não ter rebaixamento e porque isso nunca irá ocorrer, precisamos voltar um pouco no tempo e contar algumas histórias.
CONTEXTO HISTÓRICO
Como você já deve saber, o futebol profissional norte-americano começou para valer em 1996, com o pontapé inicial da MLS. Antes disso, tudo era semi-profissional e amador, sem uma grande organização, exceto no período em que a NASL, onde Pelé jogou, existiu.
A NASL tentou copiar um modelo mais tradicional do futebol, mas o resultado foi trágico. A liga começou muito bem, mas a medida que o interesse dos americanos foi caindo, os clubes começaram a quebrar, até que a liga fechou as portas em 1984, menos de 20 anos após seu início.
SOLUÇÃO ENCONTRADA
Quando a MLS surgiu, existia uma grande preocupação de que uma nova falência dos clubes e, consequentemente da liga, viesse a ocorrer. Para evitar isso, os fundadores da Major League Soccer olharam para o lado e buscaram entender o que as outras grandes ligas americanas faziam para sobreviver.
Dessa forma, o modelo de franquias foi adotado, assim como controle financeiro dos clubes, que é quase que totalmente controlado pela MLS. O modelo de franquias é utilizado na NFL, NBA, MLB e NHL e já se provou sustentável em quase todos os casos.
O QUE ISSO TEM A VER COM REBAIXAMENTO?
A questão, na verdade, é simples. Se você, caro leitor, estiver interessado agora em ser dono uma franquia, de qualquer que seja a empresa, terá que pagar por isso.
Imagine então que você acaba de adquirir uma franquia do McDonalds. Seu negócio está indo bem, lucrativo, você tem uma loja muito bem localizada no centro de São Paulo.
De repente, em um momento de crise financeira, os negócios começam a ir mal e o dono do McDonalds entra em contato com você e diz: ‘A sua loja está indo mal. Vou tirar de você e dar para outra pessoa’. Seria justo você perder seu negócio, pelo qual você pagou caro, por conta de um ano ruim? Não, né?
E assim funciona na MLS e nas outras grandes ligas americanas. Ao comprar um franquia, você se torna o “dono da loja” e não é um período ruim nos negócios que vai te fazer deixar de ser.
O DINHEIRO NÃO DEIXA
Os clubes da MLS e também da USL, pagam para entrarem em suas ligas. E pagam caro. O Charlotte FC, que entra na MLS em 2022, por exemplo, pagou US$ 300 milhões de dólares para entrar na liga. Você imagina que os donos do Charlotte algum dia aceitarão perder a vaga para um time da USL, de graça?
A MLS, por mais que tenha crescido nos últimos 25 anos, ainda é uma aposta. Os donos dos clubes, quando entram na liga, não tem a certeza de que o time vai cair no gosto da população e ser um sucesso. Por isso, tamanho investimento requer estabilidade e segurança.
E é esse o modelo do esporte americano. Você vai ter que investir para obter sucesso, mas ao mesmo tempo, terá a estabilidade e a segurança de que seu produto não será desvalorizado por um rebaixamento.
ALGUM DIA ENTÃO É POSSÍVEL QUE ESSE CENÁRIO MUDE?
A MLS segue o modelo dos outros esportes locais para poder atrair público e não diferente do football, do baseball e etc. Por isso, creio que não existe a menor possibilidade de algum dia a MLS adotar um sistema de rebaixamento.
Um clube rebaixado, querendo ou não, se desvaloriza. O valor do patrocínio cai, o preço dos ingressos cai, a cota de TV cai… Ninguém que investir US$ 300 milhões de dólares SÓ PRA PARTICIPAR DA BRINCADEIRA, fora custos operacionais, vai aceitar cair de divisão.
PODE ACONTECER MAS NÃO NA MLS
O rebaixamento nos Estados Unidos pode acontecer, mas nunca na MLS e nem talvez na USL. A NISA, que hoje é a terceira divisão ao lado da USL League One, pretende instituir o rebaixamento no país e inclusive conversa com outras ligas para que isso aconteça, como a NPSL e a UPSL, quarta e quinta divisão respectivamente.
Mas o histórico não é positivo. A “Nova NASL”, que durou entre 2011 e 2016, tentou ir contra o sistema de franquias e terminou novamente quebrada, com clubes endividados e e alguns até mesmo sem pagar salários para os atletas, algo totalmente fora da realidade americana.
A MLS e a USL não estipulam o rebaixamento porque conhecem o chão onde estão pisando. Tentar mudar o contexto histórico de uma nação, como a NISA deseja fazer e como a NASL tentou um dia, é um processo demorado e que tem grandes chances de dar errado.
Não adianta lutar contra a realidade: o futebol não é a prioridade para os americanos, nem de longe. Nenhum clube de futebol por lá vai sobreviver sem um controle financeiro e garantias, como no modelo utilizado pela MLS e as outras grandes ligas do país.
Então, esqueça. A MLS nunca terá rebaixamento.
*A coluna “Além da MLS” é de responsabilidade de seu redator e não traduz, necessariamente, a opinião do portal “Território MLS“
(Capa:
Não dá pra entender. Sem rebaixamento, a MLS nunca conseguirá ser uma liga respeitada e o futebol nos EUA sempre será mediano. Tá, ok, o futebol não é prioridade para os americanos, mas continua sendo o esporte mais popular do mundo (e o rugby o segundo mais popular, sendo que ele também não é prioridade nos EUA). Se ser primeiro nas olimpíadas e no basquete satisfaz o ego esportivo dos americanos, não vou julgar, né. Mas sem dúvidas a Copa do Mundo de futebol e de rugby são muito mais empolgantes e o EUA sempre são meros coadjuvantes (isso quando participam).
Mas essa é a sua visão. Não ter rebaixamento não está ligado ao fato de “futebol mediano” ou “liga que não é respeitada”. Está mais ligado ao país onde a MLS está inserido. Um país que joga futebol profissional há muito menos tempo do que 99% do mundo e em um continente que nunca vai bater de frente com a Europa.
A MLS tem o seu lugar no futebol, que é o de revelar jogador americanos/jovens para o mundo, e está feliz com isso.
Eu também sou a favor de rebaixamento, mas não acho que o fato de não ter faz com que a liga seja melhor/pior.