domingo, dezembro 22, 2024
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Coluna do Guga: o trabalho injustiçado de Frank de Boer em Atlanta

Na 12ª edição da ””, assinada pelo jornalista Gustavo Demétrio, confira análise sobre a passagem do técnico holandês Frank de Boer no Atlanta United

Imagine um lago no qual você arremessa uma pedra e no local que ela cai uma ”agitação” se ocasiona, nas localidades próximas é possível ver algumas ”ondinhas” que vão se alastrando e tornando a calmaria da água um pouco menos calma. Isso tudo é resultado do próprio ato de jogar a pedra, que por sua vez o mesmo é decorrido da força que algum ser humano colocou, qual mão escolheu para jogar, se a habitual ou não, qual o local na beira do lago em que fez esse movimento…

Nesse texto, o futebol será tratado como a água deste lago, a agitação será o resultado e as ondinhas vão fazer às vezes de ”contexto”. Nenhum desses aspectos é possível de se compreender estando separados, como é comumente feito na maioria esmagadora das análise deste esporte.

Em 2017, o Atlanta United estreou na sob o comando de Gerardo ”Tata” Martino, que até então havia trabalhado em times como Barcelona/ESP, Newell’s Old Boys/ARG e até mesmo a Seleção Argentina. O técnico teve rara oportunidade de literalmente poder criar do zero um plantel à seu gosto, afinal já em 2016 tinha sido contratado pelos rubro-negros para construir uma ideia de jogo, uma identidade. E foi isso que o argentino fez. Com aporte financeiro, trouxe nomes como Miguel Almirón, Josef Martínez, Tito Villalba, Yamil Asad, entre outros, que além de extremamente qualificados se encaixavam no que foi estabelecido como perfil de jogo daquela equipe. Por isso tanto sucesso.

Reconhecidamente Martino é um bom treinador, que à época tendo em mãos os jogadores certos para executar o que se pedia, passou a ter a faca e o queijo na mão, pois isso é o ideal para qualquer um neste cargo. E aí está o ponto central: o ideal para todo treinador foi possível de ser realizado por conta de uma especificidade da liga norte-americana, de montar um elenco sem estar preocupado com com jogos a cada final de semana e a inevitável pressão pelos resultados em meio a mudanças com ”o carro andando”, que eventualmente poderiam ser feitas conforme o desempenho da equipe. Isso, no entanto, acabou se tornando um padrão estabelecido a ser perseguido pelos sucessores de Martino no Atlanta, sendo que nenhum deles poderia ter o prêmio de montar o seu time durante meses sem competições e, além do mais, a maioria da opinião pública iria cobrar exatamente o mesmo desempenho, sem considerar que o contexto dos trabalhos seriam diferentes. Foi exatamente o que Frank de Boer sofreu.

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Primeiramente, errado estava quem por algum momento esperava que o holandês fosse emular Tata Martino. Estilos completamente diferentes. De parecido, só o conceito abstrato de ofensividade, mas que até nisso, na prática, ambos buscam de formas diferentes, com outros mecanismos táticos. Aí entra o erro de Darren Eales, presidente, e Carlos Bocanegra, General Manager do Atlanta United, eles não compreenderam isso, tal qual Rodolfo Ladim e Marcos Braz na troca de Jorge Jesus por Domènec Torrent.

Frank de Boer, que foi contratado para temporada 2019, com a ida de Tata para , tinha em suas mãos um elenco vencedor, que recém tinha conquistado a MLS Cup, com muita qualidade individual, mas de difícil encaixe com seus conceitos próprios, porque num ambiente tão imediatista como é o futebol, ele precisava de tempo, de um processo a longo prazo, de mudanças neste próprio grupo de jogadores, e aí não só em novas contratações, mas também em tentar fazer os bons jogarem e se sentirem confortáveis à sua maneira. Contratações, inclusive, até chegaram, mas os mandatários não fizeram como na época de Martino. Pity Martínez, então eleito melhor da América do Sul na disputa do titulo da Libertadores com o River Plate/ARG, foi contratado. No trabalho de maior sucesso na carreira do treinador, no tetracampeonato holandês com o Ajax/HOL, o jogador que ocupava a mesma função de campo do argentino era Siem de Jong, totalmente diferente. Por isso tudo, nada de sucesso na MLS e na CONCACAF Champions League e demissão no meio de sua segunda temporada no clube, em 2020.

Neste momento, alguém pode chegar a conclusão de que ”este treinador é muito fraco, só consegue jogar de uma forma, não tem capacidade para se adaptar”. Todavia, isso seria olhar um aspecto em separado, não compreendendo o todo, afinal as variações que acontecem em partidas de nomes como Pep Guardiola, Jurgen Klopp e Hansi Flick ocorrem dentro do seu próprio estilo, eles não mudam o eixo do seu trabalho ao bel-prazer. O alemão do Liverpool/ING, inclusive, seria um exemplo ao Atlanta, porque lá em solo inglês eles respeitaram o processo de um técnico que precisava de tempo para mudar alguns nomes, a identidade do clube, isso enquanto no domingo poderiam perder para o Manchester United/ING e na quarta para o Norwich City/ING. Em seis anos, conquistaram o que conquistaram, em decorrência disso. Porém, por lá, eles sabiam quais as características de quem estavam contratando, nos Estados Unidos, não.

Mesmo assim, Frank de Boer ainda conseguiu marcas importantes no estado da Geórgia. Foi campeão da , a Copa dos Estados Unidos, e também da Campeones Cup, um torneio entre mexicanos e americanos. Além disso, em seu primeiro ano, conseguiu mais vitórias que Martino se tratando de uma só temporada, foram 27. O argentino, na sua estreia, conseguiu 15, a título de comparação.

Claro, quando aceitou vir ao Atlanta, ele sabia que aquele elenco não tinha nada de similar ao seu estilo, mas certamente ele pensava que teria respaldo para poder dar sua cara ao time. Por isso, as criticas feitas em relação ao trabalho de Frank de Boer, se analisadas com o contexto, são no fundo criticas que atribuem a responsabilidade pelo insucesso ao verdadeiro vilão da história: quem o contratou.

(Capa: Reprodução/Imago Imagens)

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