terça-feira, dezembro 3, 2024
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Da ausência de uma liga profissional para o topo das Eliminatórias: Como o Canadá virou sensação em tão pouco tempo

O Canadá é líder das eliminatórias da CONCACAF e vem colecionando grandes feitos no futebol de seleções com a geração mais promissora de sua história

A vitória para cima do México na noite desta terça-feira (16) por 2 a 1 pode ter não ter sido a partida mais importante da história da seleçã, mas com certeza foi a mais simbólica. Não só por derrotar a depois de mais de 20 anos, mas por ressignificar a importância do futebol no país e talvez por começar a contestar a hierarquia do esporte no continente, tanto tempo dominado por Estados Unidos e México.

No ambiente mais canadense possível, torcida e o clima gélido do Estádio Commonwealth em Edmonton se juntaram numa atmosfera que ficou apelidada de “Iceteca” em referência à um dos maiores estádios do futebol mundial, o Azteca localizado na Cidade do México e o clima de temperatura negativa que cobriu o campo de neve. Os dois gols de Larin no final do primeiro tempo e no início do segundo tempo destruíram mentalmente uma adversário já em crise, mas que no esforço individual conseguiu o empate com Herrera aos 90` e por pouco não chega ao empate nos minutos finais.

Com quatro vitórias e quatro empates em oito jogos, o Canadá continua sendo o único time invicto no octogonal e as perspectivas para participar de sua primeira Copa do Mundo desde 1986 são incríveis. A liderança da fase final contrasta ainda mais quando se compara com o retrospecto em eliminatórias do próprio país, que foi eliminado em fases anteriores nas últimas quatro edições do classificatório para a Copa do Mundo, além da quebra de uma sequência de 16 jogos seguidos sem vitórias contra os mexicanos.

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(Divulgação/ Twitter da CONCACAF)

No entanto, como uma seleção escondida até então no cenário futebolístico mundial, rapidamente se tornou uma das grandes favoritas na CONCACAF para conseguir o passaporte para a Copa do Mundo no Catar? Quatro componentes são fundamentais para explicar uma possível Era de Ouro do Canadá nos próximos anos: A evolução do futebol no país; A promissora geração canadense; A estrela referência do esporte; E o projeto de um país.

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A EVOLUÇÃO

O Canadá vive um momento em alta sem precedentes na sua história do futebol e isso não se restringe apenas ao futebol de seleções, o estabelecimento da Canadian Premier League como a primeira liga profissional do país mostra a tentativa de popularizar o esporte a tempo da Copa do Mundo de 2026 e claro, aumentar o nível do jogador canadense médio, estratégia muito utilizada em locais que o futebol ainda precisa se desenvolver.

Iniciando com sete clubes em 2019, o campeonato pretende expandir até 2026 com 16 participantes. Sendo apenas o sexto esporte mais popular, a CPL foi criada exatamente com esse propósito: Espalhar e adentrar o futebol em cidades menores, não só ficando restrito à Toronto, Montréal e Vancouver, que possuem representantes na Major League Soccer e já possuem mercados consolidados.

Retratando outra grande marca do futebol canadense este ano, a Liga já poderá contar com um time classificado para a principal competição do continente, a Concacaf Champions League. Depois de bater o Santos de Guápiles na quartas de final da CONCACAF League por 3 a 0, o Forge FC da cidade de Hamilton, bicampeão canadense nos dois primeiros anos da Liga, representará o futebol de clubes no mais alto nível.

A GERAÇÃO

Com certamente a geração mais talentosa de sua história e comandadas pelo treinador John Hardmen que extrai o máximo das individualidades de cada atleta, o Canadá enxerga um presente supreendente e um futuro extremamente promissor.

A base de jogadores atua principalmente na MLS e outra gama de jogadores no segundo escalão da Europa, com exceção de Alphonso Davies do Bayern de Munique/ALE. Dessa forma, a seleção mescla a experiência de figuras históricas como Atiba Hutchinson de 38 anos, que está há quase duas décadas vestindo a camisa vermelha e estrelas em ascensão, no caso de Jonathan David do Lille, que aos 21 anos já é o quinto maior artilheiro da história dos Canucks com 18 gols.

Sem ficar preso a ótimos nomes históricos do país como por exemplo, Carlo Corazzin e Paul Stalteri na conquista da Copa Ouro de 2000 e posteriormente, Dwayne De Rosario e Julián de Guzmán, o Canadá evolui em sua forma de construir equipes mais homogêneas e menos dependentes de poucos jogadores. A diversidade atual com uma defesa sólida composta pelos jovens Alistair Johnston, Kamal Miller e o experiente Steven Vitória são dignas da melhor defesa do octogonal neste momento ao lado dos EUA.

Do meio para frente, a riqueza de opções são incalculáveis. De meias controladores de jogo como Stephen Eustáquio, Jonathan Osorio e Mark-Anthny Kaye, passando por alas versáteis do calibre de Richie Laryea, Sam Adekugbe, Tajon Buchanan e Alphonso Davies, e por fim, atacantes que honram até aqui o melhor ataque da competição: Cyle Larin, Jonathan David e Lucas Cavallini.

Os Reds nunca estiveram tão bem servidos na história e para efeito de comparação, o Canadá é a mesma seleção que esteve perto de completar dois anos sem vitórias em 2014 no ranking 122 da e agora perseguindo o top-40 do mundo é a nação com mais gols marcados no ano de 2021, 53 em 18 jogos.

Transfermarkt: Canada has the most goals scored by National Teams in 2021 : r/soccer

(Reprodução/ Twitter Transfermarkt)

A ESTRELA

Fruto de duas guerras civis na Libéria e nascido em um campo de refugiados em Gana, Alphonso Davies é a personificação do futebol canadense moderno, que envolve imigração, superação e talento.

Em uma terra dominada culturalmente pelo hóquei no gelo, Davies demorou a dar seus primeiros passos no futebol em Edmonton, e com 12 anos, treinava e ainda tinha que cuidar de seus irmãos mais novos. Até que conheceu Nick Huoseh, que o levou imediatamente ao , onde estreou com 15 anos (segundo jogador mais novo a entrar em campo na MLS) e aos 16 já estreava pela . Um cometa havia caído na terra do bordo vermelho.

Hoje, já consolidado na lateral-esquerda de um dos maiores clubes do mundo, o Bayern de Munique, Davies atingiu não apenas o patamar de principal jogador de toda a América do Norte, também é espelho para muitos jovens que querem traçar a carreira de futebol profissional ao dividir o status de celebridade esportiva e embaixador da Agência de Refugiados da ONU.

Com velocidade, técnica, drible e versatilidade, ele é a referência técnica da equipe, mas o principal de sua história é que ele se desenvolveu no próprio país, algo raro de se encontrar na história de jogadores mais experientes da seleção. Nomes como Jonathan Osorio e Lucas Cavallini tentaram a sorte bem cedo no Uruguai, Steven Vitória no Porto, Piette na Alemanha, muito pela falta de infraestrutra de desenvolvimento no país.

Alphonso Davies foi ao mesmo tempo solução dentro e fora de campo, de uma joia que não foi produzida em casa, mas muito bem lapidada em um contexto que por um primeiro momento se mostrava repleto de adversidades como o clima e a cultura, mas necessário da maneira exata para despontar seu talento.

Canada, Alphonso Davies look to reap benefits of World Cup Qualifying homecoming | MLSSoccer.com

(Reprodução/ Canada Soccer)

O PROJETO

Mas não por acaso, a história do futebol canadense esbarra com o desenvolvimento populacional do país. Repleto de imigrantes, a seleção como a nação é uma das mais multiculturais do mundo. Segundo o censo de 2016, dos seus 37 milhões de habitantes, 21.9% não nasceram no Canadá. A recepção de refugiados no país também possui grande apoio pelos principais partidos políticos, como por exemplo em 2018, quando aceitou cerca de 28 mil pessoas e foi a nação que mais acolheu refugiados no mundo.

Além disso, a Federação canadense aposta também em jogadores com vínculos familiares. Nomes como o meio-campista David Wotherspoon que nasceu na Escócia, e foi convocado pela primeira vez em 2018, defendeu a seleção graças a nacionalidade de sua mãe. Scott Arfield, meia do Rangers/ESC, com o pai também canadense, é outro exemplo disso.

Seja imigrante ou emigrante, o país acolhe seus atletas de maneira semelhante à outras nações já consagradas no futebol mundial como a França e outras em ascensão como a Jamaica e o Marrocos, reflexo de um mundo globalizado que não enxerga fronteiras para a prática do esporte mais popular do planeta.

Com uma Liga em crescimento e um público cada vez mais cativado, o Canadá pode entrar de vez no mapa do futebol antes mesmo do que se esperava e a Copa do Mundo de 2026 talvez não seja um ponto de partida como aconteceu com os Estados Unidos em 1994, mas a consagração de um país que viu o futebol crescer mais rápido do que em qualquer outro local.

(Capa: Reprodução/ Canada Soccer)

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