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Construção do novo estádio do Inter Miami é aprovada pela comissão da cidade

teve seu projeto aprovado após três anos do começo do trâmite 

O Miami Freedom Park voltou a ser assunto nos últimos dias. Não pela sua esperada construção, mas pelas polêmicas e indecisões, que envolviam todo o processo de desenvolvimento do projeto do futuro estádio do Inter Miami CF. Entretanto, nesta quinta-feira (28), por 4 votos a 1, a Comissão da Cidade de Miami aprovou o plano, que envolve além do estádio, hotel, parque, centros comerciais, quadras esportivas, além de obras de infraestrutura como novas pistas de acesso.

O clube afirma que o Freedom Park deve gerar US$ 2,67 bilhões em pagamentos de aluguel para a cidade ao longo dos 99 anos de duração do contrato; esse número pressupõe aumentos significativos em relação ao pagamento de aluguel anual mínimo inicial de US$ 3,57 milhões, atualmente estipulado no arrendamento proposto. O Inter Miami também projeta que o empreendimento gerará mais de US$ 6 bilhões em receita tributária ao longo de todo o arrendamento e que 15.000 empregos serão criados.

É um dia incrível para os eleitores de nossa cidade, para os torcedores do Inter Miami e quero agradecer sinceramente aos Comissários, ao Prefeito e a todos que estiveram envolvidos neste processo”, Jorge Más, CEO do Inter Miami e proprietário-gerente, disse em entrevista coletiva após a confirmação da aprovação.

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Antes de começar as obras, engenheiros necessitarão serem enviados para conduzir uma inspeção do terreno para avaliar se é possível a construção do estádio e de centros comerciais. O advogado do clube, Richard Pérez afirmou que alguns elementos do acordo provavelmente seriam negociados durante esse processo, incluindo um plano completo de transporte e aprovação da Administração Federal de Aviação, que precisaria aprovar aspectos do projeto devido à proximidade do local ao aeroporto internacional da cidade. O Inter Miami espera concluir a mudança de zoneamento até o final de 2022.

Após a realização destes acordos, o clube assumiria o controle do terreno. Eles poderiam então iniciar o processo de remediação ambiental (testes em 2019 mostraram que o campo de golfe estava contaminado por arsênico; os custos de limpeza, que o Inter Miami se comprometeu a pagar, são estimados em mais de US$ 30 milhões), buscar aprovação para planos e licenças de construção e, eventualmente, começar a construir o parque e o estádio.

O Inter Miami manterá instalações permanentes em Fort Lauderdale com um campo de treinamento de 50.000 pés quadrados e o DRV PNK Stadium, que continuará sendo onde o clube irá mandar seus jogos, enquanto trabalha na construção do Miami Freedom Park, que deve ser concluído para a temporada 2025 da MLS.  O próximo compromisso no estádio acontecerá somente daqui a duas semanas. O time enfrenta o South Georgia Tormenta FC pela quarta fase da US Open Cup.

Histórico

Em março de 2014, quando houve o anúncio de lançamento do clube, também ocorreu a promessa da construção de um estádio privado particular próprio, no entanto, o projeto nunca conseguiu sair do papel. Os proprietários do Inter Miami, Jorge Más, seu irmão José e o ex-astro do Real Madrid/ESP, David Beckham, buscaram por acordos com a prefeitura da cidade até os dias atuais.

Primeiramente, o grupo apresentou um plano para construir um estádio para 25.000 lugares em PortMiami, mas a oposição formada pelas empresas portuárias da região levou ao anúncio de um segundo local em maio de 2014. O local escolhido era um terreno recuperado no Museum Park e a capacidade do estádio seria reduzida para 20.000, mas esse local também foi rejeitado pela cidade de Miami. Então, a franquia anunciou sua intenção de construir o estádio com fundos principalmente privados. Em dezembro de 2015, um local privado foi localizado, mas a ideia não seguiu, porque os proprietários desejavam um espaço maior.

Essa busca por uma abundância de hectares foi o que causou a verdadeira dor de cabeça para o clube. O projeto atual existe desde 2019 e consiste em transformar o campo de golfe Melreese em uma área de esportes e lazer bilionária, mas houve muita resistência para esta ideia. O trâmite ficou parado por 2 anos devido à COVID-19 e só foi retomado em 2022.

Desde fevereiro, os comissários, em dúvida se aceitavam o projeto oferecido, marcaram outras cinco audiências antes da agendada para quinta, mas não tomaram uma posição e a votação precisou ser adiada.

O Inter Miami ainda possui um plano alternativo em um local que o clube já possui no bairro de Overtown. Contudo, esta ideia está longe de ser a idealizada por Jorge Más, que ao site The Athletic disse que “não é onde o estádio deveria ir”. Para a ideia do magnata ser convertida em realidade, precisa de muito espaço de terra, que não seria suficiente na alternativa pensada por ele.

Estádios isolados por si só não funcionam. Eles são ruins para a comunidade, são ruins para as equipes, são péssimos para os negócios. Um estádio como âncora e parte de um desenvolvimento, na minha opinião, é o futuro de como os estádios serão desenvolvidos. Eu gosto de pensar que nós em Miami estamos realizando algo inovador e bom com nosso próprio dinheiro, porque colocamos nosso dinheiro onde nossa boca está”, falou Más.

Inter Miami
Antes e depois: Idealização do projeto (Reprodução: Miami Freedom Park)

Polêmicas

Em 19 de abril, o cineasta Billy Corben, co-fundador dos estúdios Rakontur, sediados em Miami, lançou um vídeo de campanha contra o plano de Más e Beckham. O curta provocativo foi narrado por David Samson, o ex-presidente do Miami Marlins, que deixou uma dívida de US$ 2 bilhões para a construção do estádio para o clube da MLB, inaugurado em 2012.

O vídeo viralizou não somente na Flórida, estado onde fica localizado o distrito de Miami, mas como em todo o país. Na manhã do dia seguinte, já contava com mais de 350 mil visualizações somente no Twitter. Impactado com o engajamento, Corben veio a público dar mais palavras sobre o que motivou a criação do vídeo.

“Somos como a capital do bem-estar esportivo do país”, disse Corben. “É a arena do Miami Heat, o estádio do Miami Dolphins, o Marlins Park… O estádio do Buffalo Bills era conhecido até algumas semanas, como o pior acordo esportivo da história para a sociedade. Agora Miami está tipo, ‘Ei, Nova York, segure minha cerveja. Temos mais truques na manga aqui.‘”

Observando a campanha e o engajamento negativo nas redes sociais, o clube se pronunciou nas redes sociais rebatendo as acusações referidas no vídeo. Além disso, Jorge Más definiu o vídeo como “um exemplo perfeito de como você personifica uma pessoa mentirosa” e reiterou que o acordo pode ser positivo para a cidade.

Quando você olha para a cidade de Miami saindo do bolso por zero, acredito que os comissários têm a oportunidade de realmente brilhar e mostrar o que é possível aqui.

Todavia, este não foi o único estresse que tormentou a direção antes da votação. Também neste mês, o portal Miami Herald publicou uma matéria afirmando que a MasTec, empresa de engenharia e construção gerida por Más, já doou US$ 157 mil dólares para comitês vinculados a três dos cincos comissários que tiveram espaço para voto. Ainda conforme a apuração do site, a MasTec também financiou US$ 25 mil para a campanha do atual prefeito da cidade, Francis Suárez, em 2017. O prefeito foi um dos grandes endossadores do projeto, e esteve nesta quinta-feira, ao lado de Jorge Más, no canal televisivo Fox News para falar sobre o projeto.

Para o projeto sair do papel, quatro dos cinco comissários deveriam dizer ‘sim’ para a proposta. Um destes cinco comissários, Manolo Reyes, foi uma das maiores figuras contra o projeto na comunidade de Miami. Na visão do político, o acordo chega a ser pior que do time de beisebol citado no vídeo de Corben, criticado por outro comissário durante a audiência.

Ainda de acordo com Elaine de Valle, vencedora de dois prêmios Pulitzer, um dos principais políticos da cidade, Art Noriega, recebeu uma proposta do Inter Miami para um emprego, onde receberia um salário de seis dígitos, caso o acordo pelo Miami Freedom Park seja aprovado. Noriega é um dos principais negociadores de Miami em relação aos termos de arrendamento. Reyes informou que o político recomendou o acordo aos comissários. Más se revoltou com a acusação e ameaçou entrar na justiça contra a jornalista:

Isto é evidentemente falso e ridículo. As pessoas que jogam mentiras assim, arcarão com consequências em basicamente acusar as pessoas de serem corruptas”, afirmou.

O impasse se deu sobre a dimensão do impacto que a obra causaria para a cidade e sua comunidade que perderia um patrimônio sócio-histórico da região para o mundo empresarial, embora ainda exista espaços que terão acesso público. Segundo o CEO da franquia da , não houve projeto mais vantajoso para a comunidade que o oferecido por eles.

Qualquer empresário ou qualquer cidadão poderiam ter feito uma proposta para a cidade de Miami se acreditasse que tinha um uso melhor ou uma ideia melhor para Melreese, mas não aconteceu. Este é um mercado livre e é assim que o capitalismo funciona.

(Capa: Reprodução/ Site Inter Miami)

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