Em entrevista exclusiva ao Território MLS, o atacante fala sobre a trajetória que o levou da base do Grêmio à Major League Soccer, o privilégio de fundar um clube do zero e sua conexão crescente com a comunidade de Saint Louis.
⸻
João Klauss: Da base gaúcha ao futebol norte-americano
João Klauss carrega no sotaque e na postura o que define um journeyman — aquele jogador moldado pela estrada. Natural de Criciúma e formado nas categorias de base do Grêmio, o atacante viveu de tudo antes de desembarcar nos Estados Unidos: passou por Alemanha, Finlândia, Áustria e Bélgica, acumulando estilos, idiomas e cicatrizes.
“Cada país tem uma cultura, uma maneira de trabalhar. No início é difícil, especialmente quando você não fala a língua, mas isso te fortalece. Hoje vejo o quanto essa experiência me fez crescer como pessoa e profissional”, conta.
A travessia europeia deu a Klauss o olhar de quem entende o futebol como linguagem universal — algo que viria a calhar quando recebeu o telefonema que mudaria sua carreira.
⸻
St. Louis SC: O convite que fundou um novo capítulo
O ano era 2022. Do outro lado da linha, Lutz Pfannenstiel, diretor esportivo do recém-criado St. Louis City SC e velho conhecido dos tempos de Hoffenheim. A proposta: liderar um projeto do zero em uma liga em plena ascensão.
“Quando o Lutz explicou o projeto, chamou muito minha atenção. Cheguei aqui com o estádio ainda em construção e o centro de treinamento também. Foi único — ver tudo nascer, participar das primeiras partidas, fazer parte da história desde o primeiro dia.”
Hoje, com status de Designated Player e símbolo da equipe, Klauss personifica o que St. Louis imaginava ao entrar na MLS: um clube enraizado na cidade, competitivo e com identidade.
⸻
Tática, adaptação e o choque de estilos
Com passagem por diversas ligas, o brasileiro é direto ao comparar o futebol americano com o europeu.
“A MLS é uma liga muito física, de muita transição. A maioria dos times joga assim, e isso reflete até a cultura esportiva dos Estados Unidos. Aqui os jovens já chegam com base atlética muito forte, devido à formação universitária e à educação física. É um perfil diferente do brasileiro, mas muito interessante.”
O desafio logístico também é real: fusos horários, longas viagens e jogos noturnos que testam o corpo e a mente. “Muitos não se adaptam. Às vezes você joga na Califórnia e chega em casa às seis da manhã. No fim da temporada, isso pesa”, admite.
⸻
Temporada de 2025: entre altos, baixos e um hat-trick inesquecível
Mesmo num ano irregular do St. Louis City, Klauss viveu momentos marcantes — como o hat-trick diante do LA Galaxy, o primeiro da história do clube.
“Foi um jogo especial. Apesar da temporada não ter sido como queríamos, esse tipo de momento fica. Deixei meu nome na história.”
View this post on Instagram
A campanha oscilante, agravada por trocas de comando técnico, expôs os bastidores de um elenco que precisou se reinventar. “Mudança de treinador é mudança de filosofia. Com o novo técnico, o grupo se reencontrou e manteve a mentalidade forte, mesmo fora dos playoffs.”
⸻
O líder dentro e fora de campo
Aos 28 anos, Klauss se transformou em referência dentro do vestiário e fora dele. Além da braçadeira simbólica, o brasileiro tem se dedicado a projetos de educação financeira e apoio à juventude local.
“Saint Louis é uma cidade apaixonada por esportes, muito comunitária. Eu acredito que o desenvolvimento passa pelos jovens — e que educação financeira deveria fazer parte da escola. Se eu conseguir inspirar uma criança ou um jovem a cuidar melhor do futuro, já valeu a pena.”
O futuro e a esperança de 2026
Com contrato até o fim de 2025 e opção de renovação, Klauss evita falar em planos, mas o sentimento é claro:
“Estou muito adaptado, feliz aqui. Tenho amigos; conheço a cidade. Mas a decisão é do clube. Por enquanto, é aguardar.”
E sobre a Copa do Mundo de 2026, que será disputada em solo americano, ele projeta:
“A MLS cresce a cada ano. Essa Copa pode ser um divisor de águas para o futebol no país. Espero que todos nós possamos viver isso de perto.”