Três anos atrás, o Território MLS conversou em exclusividade com Marc dos Santos, então um nome discreto na comissão do LAFC. Hoje, o ex-treinador da base do Palmeiras está a um passo de assumir o comando de um dos maiores clubes da MLS — e o momento parece ter chegado.
De carta aberta em Vancouver ao comando tático em Los Angeles
Seis anos após escrever uma carta emocional aos torcedores do Vancouver Whitecaps, Marc dos Santos retorna ao BC Place, não como o técnico que muitos imaginaram, mas como o arquiteto tático por trás do atual LAFC — e como possível substituto de Steve Cherundolo em 2026.
Aquele que um dia pediu paciência e fé à torcida canadense agora tenta eliminar o clube que um dia comandou, liderando do banco calmo, mas detalhista, do Los Angeles Football Club, a um jogo de distância da final da Conferência Oeste.
E enquanto o LAFC busca mais uma MLS Cup, rumores indicam que não será Tata Martino nem Ante Razov o sucessor de Cherundolo, mas sim o próprio Marc dos Santos, o técnico que nunca saiu do campo de visão da diretoria — especialmente de John Thorrington.
Por que agora? E por que Marc?
Com Cherundolo prestes a encerrar seu ciclo no comando técnico, dos Santos ganha força como a aposta mais segura, e talvez mais coerente, para preservar identidade e continuidade em um clube que está vivendo um de seus melhores momentos — dentro e fora de campo — com a chegada de Son Heung-min e um sistema tático cada vez mais funcional.

Nem todo mundo, é claro, vê isso como o caminho ideal. Muitos torcedores querem se distanciar de vez do chamado “Dolo-Ball”, apesar das 68 vitórias acumuladas desde 2022. Mas há uma razão para essa transição ter funcionado: Dos Santos foi peça-chave, tanto na virada de página após a saída do icônico Bob Bradley quanto na adaptação do elenco a uma nova mentalidade coletiva.
Quando a gente olha de perto, a escolha por Marc dos Santos não parece apenas lógica. Ela pode ser estratégica. Aqui vão cinco motivos pelos quais o LAFC já tem seu próximo treinador sentado no banco — só falta o anúncio.
1. Ele já conhece o LAFC — e ajudou a construir o sistema
Marc dos Santos foi auxiliar de Bob Bradley em 2018 e voltou ao clube em 2022 para compor a comissão técnica de Steve Cherundolo. Desde então, se tornou peça central no plano tático do clube: o 4-3-3 fluido, o pressing inteligente, as rotações ofensivas — tudo carrega impressões digitais de MDS.
Hoje, quando vemos o LAFC de Bouanga e Son dominar partidas, é a estrutura tática pensada por Marc que está em campo. Ele é o cérebro silencioso ao lado dos jogadores antes de cada apito inicial.
2. Experiência como treinador principal — da forma mais difícil
A passagem pelo Vancouver Whitecaps terminou em frustração, sim. Mas o contexto importa. Dos Santos herdou um elenco em reconstrução, promoveu uma revolução interna e tentou implementar um modelo propositivo em um vestiário com 14 nacionalidades.
Chegou aos playoffs no primeiro ano, saiu com cicatrizes e voltou mais maduro. O que parecia um fracasso se transformou em bagagem. E hoje, ele chega ao LAFC com estrutura, estrelas e estabilidade.
De lá para cá, conquistou a MLS Cup, dois Supporters’ Shields e a U.S. Open Cup como parte vital da comissão técnica. Já esteve em decisões, sofreu eliminações duras, e mesmo assim construiu reputação. Ele merece essa chance — especialmente se o LAFC mostrar força nesta reta final.
3. O elenco confia — especialmente a nova geração

Poliglota, experiente e com bagagem internacional, Marc dos Santos também domina o idioma mais importante do vestiário: respeito.
Já trabalhou em categorias de base no Brasil (incluindo o Palmeiras sub-15), venceu no Canadá e hoje é uma das vozes mais ouvidas pelos jovens talentos do LAFC. Jogadores como Igor Jesus e Erik Dueñas cresceram sob sua orientação, enquanto estrelas como Son Heung-min adotaram rapidamente sua ideia de jogo.
Na era moderna da MLS, isso conta muito: ele é um técnico centrado no jogador, mas obcecado pelos detalhes táticos.
4. Obsessivo nos detalhes — e com repertório tático amplo
Marc dos Santos tem licença UEFA A e uma mente inquieta. Ele estuda adversários, desenha armadilhas no meio-campo e prepara o time para jogar na altitude e no calor, recorrendo a contra-ataques letais.
Lembro da primeira vez que o entrevistei: ele me disse exatamente até onde o Canadá poderia chegar na Copa de 2022 — e acertou. Mas não é preciso voltar tanto. Sua preparação para o duelo contra o Austin FC, já nos playoffs deste ano, mostrou um técnico pronto para liderar no mais alto nível.
5. Continuidade — com chance real de iniciar uma dinastia
A saída de Cherundolo abre espaço para apostas ousadas, mas também traz risco. Muitos defendem um nome midiático, alguém capaz de reposicionar o clube ao nível global. Mas se Mourinho não durou no mercado, a alternativa mais sólida talvez seja valorizar quem já conhece a casa.
Dos Santos entende o CT, os bastidores e o que o gerente-geral de futebol, John Thorrington, espera do comando técnico. Em mais de uma década trabalhando juntos, eles desenvolveram confiança mútua — e um estilo de clube.

Se o LAFC levantar mais uma taça em 2025 e optar por Marc dos Santos, não será apenas um voto de confiança. Será um sinal claro de que o clube acredita na continuidade, sem abdicar da ambição.

