quinta-feira, novembro 21, 2024
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Coluna do Guga: O (des)conhecimento de Gabriel Heinze

Na 14ª edição da ”Coluna do Guga”, assinada pelo jornalista Gustavo Demétrio, confira a análise sobre o atual estágio do trabalho de Gabriel Heinze, técnico do Atlanta United

Gabriel Heinze

À primeira vista, certamente o leitor que acabara de clicar no link para entrar nesta coluna de opinião, pensou que havia encontrado uma critica que acabou por julgar que seria mais ou menos pesada em relação ao técnico Gabriel Heinze, do Atlanta United. Mas, já adianto, o texto estará mais para um consentimento ao argentino do que qualquer outra coisa.

Na terça-feira (27), o time ”Five Stripes” perdeu o jogo de ida das quartas de final da Champions League, por sonoros 3 a 0, em casa, contra um que em grande parte dos 90 minutos foi inferior em nível de atuação apresentado, tendo seu goleiro como responsável direto pelo resultado. Este fato ocasionou então um reação muito brusca sobre Heinze e seus comandados – em alguns aspectos corretos. No entanto, outros pormenores merecem ser colocados à mesa para um bom entendimento.

Gabriel Heinze é muito bom treinador. Isso merece ser dito antes de tudo. Da escola de Marcelo Bielsa, suas ramificações táticas, sua paixão pelo esporte e pela profissão são notáveis. Já cativou os olhares dos fãs de Atlanta só pelo seu jeito inflamado  e personalidade forte, que são totalmente transportados à campo, com um time intenso, que quer ter o controle do jogo e que não se contenta com pouco desempenho.

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Um técnico que, com facilidade, muda esquemas, revigora jogadores, entende o lado pessoal (até porque já esteve em campo), não pode ser subestimado. Aos espectadores que acompanharam alguma partida do trabalho do argentino até aqui, devem ter percebido um pouco desta variação de posições, por exemplo. Com bola, em 3-5-2, há um quase infinidade de mudanças aparentemente pequenas em alguns posicionamentos das peças no gramado, mas que são de grande valor.

Santiago Sosa, volante, que na maioria das vezes atua entre dois zagueiros na saída com três, também não se furta em avançar e outro assumir aquela função. Assim como George Bello, que já atuou como defensor pela esquerda, lateral em amplitude e mais recentemente como volante em uma espécie de ”duplo-pivô” no meio-campo. Ezequiel Barco com liberdade de movimentos, Marcelino Moreno ora na ponta, ora por dentro a depender do seu companheiro pelo lado. A escolha por Jurgem Damm como ala/ponta das jogadas de 1 vs 1 pela direita ou a entrada de Mulraney para ser alguém mais construtor por ali. Esses são apenas algumas dos inúmeros tipos de mudanças que ocorrem neste time.

Há uma ideia nisso tudo, uma filosofia, um propósito. Há conteúdo no que Heinze faz. Por isso, é um bom técnico. Porém, (ainda) não entende de , ou do contexto norte-americano.

O rival que bateu o Atlanta na competição pode ser um bom exemplo para chegar ao ponto central desta coluna. O Philadelphia Union é comandado pelo americano nascido em Oreland, na Pensilvânia, Jim Curtin, que está no clube há 11 anos, desde que abandonou sua carreira como jogador. Ele não começou diretamente como técnico do time principal, mas foi subindo degraus dentro da estrutura do Phily.

Primeiro, esteve a frente por dois anos do Union Sub-18, entre 2010 e 2011. Depois, em 2012, foi promovido para auxiliar técnico da equipe, cargo onde ficou por mais um tempo, até meados de 2014, quando a direção da franquia decidiu por demitir o então treinador principal, John Hackworth, e dar uma oportunidade para Jim Curtin, que por sua vez demorou cerca de quatro anos para tornar o time competitivo. Foi preciso muita paciência, contratações pontuais, de mercados não tão conhecidos assim, e um trabalho de fomentação de jogadores da base impar nos Estados Unidos, aproveitando a passagem de Curtin pelas academias.

Mas, já são 11 anos dentro do clube. Quatro para ser uma boa equipe. Além disso, ele é americano, nascido em uma cidade que fica a 39 minutos de Chester, onde está sediado a franquia. Já Gabriel Heinze é argentino, não fala inglês, a cultura do Atlanta United ainda não está homogeneizada nele. A não ser para férias, o técnico nunca tinha pisado nos Estados Unidos. É natural que não esteja inserido em todo um contexto, afinal começou a treinar seu time em 24 de fevereiro deste 2021. No dia da derrota para o Philadelphia, tinha completado dois meses e dois dias desse momento.

A precocidade das criticas que comumente são feitas em terras brasileiras em relação ao futebol nacional não podem ser transportadas para o que está acontecendo com ”El Gringo” (o apelido nunca fez tanto sentido como agora). Em dois meses e cinco jogos, não é possível saber como determinado jogador vai reagir em determinada situação, das milhares que podem vir a ocorrer em um jogo de futebol, o que é um exemplo das tantas questões que o treinador tem de pensar.

Curtin, mais uma vez, é modelo aqui. No intervalo da já mencionada partida, a forma como ele mudou seu time, moldando jogadas para atacar algumas lacunas do rival, só foi possível para alguém que sabia como cada atleta poderia desempenhar naquele momento especifico. E esse conhecimento só veio com várias e várias situações semelhantes pelas quais ele passou no clube.

A falta de entendimento de Heinze em relação ao que é o panorama da MLS é, na verdade, falta de experiência na liga. Totalmente normal.

(Capa: Reprodução/Twitter Atlanta United)

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