sexta-feira, março 29, 2024
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Pride Month: O que o brasileiro e a CBF podem tirar de proveito da MLS? – Opinião TMLS

As confederações de futebol das principais ligas dos Estados Unidos (MLS) e no Brasil (CBF) se diferem na adesão às causas sociais

Chegamos ao fim do mês do Orgulho LGBTQIA+ (Pride Month, em inglês). Embora seja mal visto por uma parcela da população, que desconhece ou não aprova a real intenção da celebração, o período é utilizado para conscientizar e reforçar a importância do respeito e da promoção de igualdade social e profissional de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e outras.

Apesar da recepção cada vez mais positiva da mídia e do ramo corporativo, a luta segue sendo muito importante para o combate da LGBTfobia, que persiste em ocorrer pelo mundo. No Brasil, a atenção para a causa deve ser ainda maior, já que o país possui o maior número de casos de crimes motivados pela repulsa às pessoas pertencentes a esta comunidade em todo o planeta.

Dada a importância da adesão à campanha, a Major League Soccer divulgou uma ação em apoio ao Pride Month no primeiro dia do mês. Na iniciativa, a liga se prontificou de dar suporte e visibilidade para ONGs destinadas a atletas, treinadores e pessoas inclusas no grupo LGBTQIA+. Além disso, o apoio não se dá somente através das mídias sociais. Todas as equipes possuem uniformes em apoio à causa e promovem eventos direcionados a este público durante todo o mês. Um movimento pioneiro em ligas de futebol.

As próprias torcidas do clube apoiam e engajam na campanha, não só com manifestações como no vídeo abaixo, mas com a venda de produtos oficiais, utilizados durante todo o mês de junho. As franquias fornecem espaços de comunicação direta da torcida com o clube e é nisso que a Major League Soccer se diferencia.

Estar atento nas causas sociais e direcionar a atenção do público para assuntos que vão além do futebol, valorizam a marca perante a população, o público-alvo e aos investidores. Manter-se alienado aos problemas atuais da sociedade, não engradece a marca de uma empresa. Pelo contrário, desvaloriza-se, principalmente da nova comunidade de jovens, que cada vez mais engajados em busca por representatividade e sentimento de pertencimento à algo ou alguém.

O mercado financeiro já percebeu este movimento. De acordo com levantamento do IBOPE/Conecta realizado em São Paulo, 62% dos consumidores deixariam de obter produtos de uma empresa, que já está fidelizada, por outra que apoia as causas sociais de seu interesse. Além disso, 50% dos entrevistados estão dispostos a pagar mais pelos produtos ou serviços de marcas que contribuem positivamente para o bem-estar coletivo.

É notório que a maior parte do público apaixonado por futebol é formado por pessoas heterossexuais, justamente por englobar a maioria da população do planeta. Todavia, essas pessoas contam com a presença de LGBT+ em seu entorno. Saber que o seu time do coração apoia a existência das minorias, realça a existência da instituição no mundo. No entanto, é nisso onde a CBF e diversos clubes brasileiros têm mais falhado.

Pautados pela pressão social cada vez mais constante por representação para as minorias sociais, diversos clubes de todas as divisões nacionais fizeram algumas publicações sobre o tema. Contudo, a falta de uma liga que possa gerenciar atividades e promover ações em conjunto, assim como ocorre na MLS, prejudicam maior envolvimento das equipes sobre a questão, pois afirmar que LGBTfobia é ruim e não deve ser cometida, não gera o efeito necessário para o combate ao crime.

Ter empatia de olhar para o próximo e sair do texto “fácil”, e quase sem sentido, é cada vez mais necessário para não gerar imagens e textos enfadonhos e que ao invés de ajudar, se tornam verdadeiras gafes como já aconteceu em anos anteriores. Times como Vasco e Santos lançaram campanhas sobre o tema que tiveram boa repercussão nas redes sociais. Outros como Bahia e Corinthians são ativos em causas sociopolíticas como essa e também não deixaram a comemoração em branco. Este é um cenário completamente distinto da Confederação Brasileira de Futebol que evita ao máximo se envolver nessa questão e faz pior, reforça esteriótipos e preconceitos, mesmo que não voluntariamente.

No ano passado, a seleção brasileira se envolveu numa polêmica após o meia Douglas Luiz utilizar a camisa nº 25 na Copa América, mesmo o país possuindo 24 convocados. Tal atitude gerou diversas críticas e até um processo judicial, que obrigou a CBF a justificar a ausência do número por uma “decisão desportiva” do próprio jogador. A repulsa a este número ocorre pelo fato de ser associado diretamente aos gays, remetendo ao animal veado no Jogo do Bicho.

Em 2022, a instituição máxima da modalidade no país demorou para demonstrar algum apoio, nem mesmo quando o ex-jogador e atual comentarista na TV Globo, Richarlyson fez história ao ser o primeiro atleta bissexual assumido publicamente no futebol nacional. Apenas no dia 28 deste mês, dia internacional do Orgulho LGBTQIA+, a Confederação se pronunciou sobre a data, mas com uma mera imagem ilustrativa e um texto “padrão”.

Comentários homofóbicos em publicação da CBF
(Reprodução: Instagram/ CBF)

Por mais que a intenção seja boa, não é suficiente. Em um país que mais mata LGBTs e eterniza o preconceito até os dias atuais, inclusive nos estádios, ser básico não muda panorama algum. Muito pelo contrário, o que foi observado nas redes sociais foi ainda maior disseminação do ódio, mesmo quando deveriam ter respeito por essas pessoas que sofrem diariamente.

Neste ponto, parece ser bem óbvio o motivo do Brasileirão sofrer para obter crescimento no exterior enquanto a Major League Soccer anunciou um acordo bilionário para somente cobertura em plataformas de streaming. Mesmo sendo terra de onde saíram diversos craques da história do futebol mundial, o Brasil e o brasileiro estão parados no tempo e seguem com pensamentos arcaicos na ética, na moral e no mercado financeiro, deixando campeonatos alternativos mais atrativos.

Nosso país é uma joia a ser lapidada, mas para valorizar nosso produto, a mentalidade precisa ser mudada. São necessários anos de mudança em todas as esferas sociopolíticas nacionais. Basta querer.

(Capa: Reprodução/ MLS)

 

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