Mais uma equipe na Califórnia? 7 pontos para justificar a criação do San Diego FC

A Major League Soccer anunciou na quinta-feira (18), uma nova equipe em San Diego: o San Diego FC, na California. O bilionário britânico-egípcio Mohamed Mansour financiou a exorbitante taxa de expansão de US$ 500 milhões, recorde da liga

O San Diego FC, nome provisório, será o trigésimo clube da MLS e jogará no recém-construído Snapdragon Stadium, com capacidade para 35.000 pessoas, casa do time de futebol americano universitário San Diego Aztecs e do San Diego Wave, a franquia da National Women’s Soccer League. A equipe deverá começar a atuar em 2025.

A notícia de mais um clube na Califórnia foi vista como uma surpresa para alguns seguidores da liga que sabem que o estado, na Costa Oeste dos Estados Unidos, já conta com três outras equipes, duas originais de 1996 (Los Angeles Galaxy, San Jose Earthquakes) e a mais recente adição: o Los Angeles FC, que completará sua sexta temporada no fim deste ano.

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Alguns argumentam que a cidade certa deveria ter sido Las Vegas, na mesma região do país, até pelo sucesso já obtido na NHL (hóquei) e as recentes adições de equipes da NFL (futebol americano) e MLB (beisebol), mas isso não aconteceu, ao menos dessa vez. Apesar do crescimento em Nevada e constante fluxo de turistas que visitam Vegas, o modelo do soccer na America ainda é bem dependente do sócio-torcedor que tende a ir ao estádio todas as semanas. Mas, a população é apenas o topo do iceberg, talvez mais, a base que proporciona tantas oportunidades e alternativas para o desenvolvimento do soccer nos Estados Unidos.

Califórnia – um estado populoso

Conforme o último censo de 2020, a Califórnia tem 39 milhões de habitantes, com a área metropolitana de San Diego sozinho abrangendo mais de 4 milhões de pessoas. Se o leitor adicionar Orange County, o condado entre Los Angeles e San Diego, estamos falando de cerca de 3 milhões de pessoas adicionais em uma área de aproximadamente 800 milhas (ca. 1.287 km) quadradas. Por comparação, o estado de Ohio tem duas equipes (FC Cincinnati e Columbus Crew) para 10 milhões de pessoas. Torcedores para seguir a nova equipe não faltam.

Ou faltarão?

A grande pergunta que a liga e o comissário Don Garber terão que responder é se realmente a liga pode coexistir com a outra liga norte-americana, a USL, que já tinha uma de suas equipes na área e tentou sair para a liga vizinha, mas foi batido por outro grupo com a ideia de desenvolver uma marca original, e acabou sobrando na equação.

O argumento, porém, se torna um pouco crível quando notamos que a média de público do San Diego Loyal em 2022 fica perto dos 5.000, enquanto franquias como o San Diego Padres (beisebol) com média acima de 30.000 pessoas jogando em downtown e o San Diego Wave que, jogando no próprio Snapdragon Stadium, consegue média de público superior aos 20.000. Não é à toa que Manny Machado, jogador dos Padres, optou por se tornar um dos donos da equipe.  Afinal, essa é a mesma fórmula que deu certo em Los Angeles onde Magic Johnson, ícone esportivo e atual dono dos Dodgers, entrou como sócio-minoritário no LAFC, agora a franquia mais valiosa e bem valorizada da liga.

Mas, e os leais fãs do Loyal? Eles podem até continuar assistindo sua equipe, mas eventualmente terão que entender e levar os filhos que vão querer ver a equipe da MLS jogar no maior palco de soccer da cidade. Quem é pai sabe como funciona. E, neste caso, a MLS é o pai e a USL é o filho. Coexistir é uma opção, basta ver o quão viável.

Jovens na Califórnia ganham interesse pelo jogo bonito

Há anos a Califórnia é um estado popular para o basquete e o beisebol. Este é um fato indiscutível. Mas, devemos mencionar que a popularidade do soccer no estado tem aumentado constantemente e deve continuar crescendo nos próximos anos.

A popularidade da California Youth Soccer League é em parte a razão para isso. Existem aproximadamente 321.000 jogadores de futebol juvenil registrados no norte e no sul da Califórnia.

Isso não deveria ser uma surpresa, considerando a grande população do estado. Também, não deve ser surpresa que, com esses jovens, anualmente, equipes locais tem oportunidades de identificar talentos que possam um dia defender suas equipes, começando pela base da MLS Next Pro, a nova liga de desenvolvimento de talentos da liga.

O dinheiro e os investidores convergiram na hora certa

Para começar, o grupo proprietário não é dono do estádio em que jogará e tera que arcar com a pesada da taxa de entrada das franquias, um recorde para a MLS.

Entretanto, o Grupo Mansour é dono da academia de jogadores Right to Dream, que começou em Gana e se expandiu para o Egito e depois para a Dinamarca. A Right to Dream acabou comprando o FC Nordsjaelland na Superliga dinamarquesa – e usa sua academia para munir a equipe dinamarquesa.

O SDFC ou FCSD começará somente em 2025. A equipe ainda não anunciou oficialmente um nome permanente e um esquema de cores, mas mencionou que o fará nas próximas semanas. No entanto, o CEO, Tom Penn, confirmou que a equipe se chamará San Diego FC ou FC San Diego. O San Diego FC planeja visitar a maioria, senão todas as cidades do condado de San Diego para conversar com as comunidades e pedir opiniões sobre esses assuntos, até lá, terão que trabalhar duro para construir laços com os novos torcedores.

O estádio está pronto e apesar de não ser específico para soccer, é ótimo para os padrões

O Snapdragon Stadium da San Diego State University, porta 35.000 lugares e tem somente nove meses. É controlado por poderosas partes interessadas locais, com a capacidade certa para a MLS e localizado perto do centro geográfico da cidade, não dos subúrbios. Seu ponto fraco é a inexistência de cobertura na área das arquibancadas, mas o horário de início dos jogos, padronizados para acontecer às 19h30 no horário local, ameniza a questão do calor californiano.

Proximidade da fronteira do México

San Diego abriga muitos México-Americanos, o que deve facilitar a adoção da nova equipe a região, principalmente com as novas competições em jogo. E, não é de hoje, mas os torcedores da Liga MX estão sendo vistos como um grande público alvo da liga dos Estados Unidos. Faz sentido pelos interesses natos do segmento e também pelo entrelace das equipes nas competições da Concacaf. Com o prêmio maior da Concacaf Champions League em vista, os clubes agora possuem mais uma oportunidade para se enfrentar na Leagues Cup e se classificarem para o prêmio maior do continente. Um torneio de verão no meio do ano, exclusivo entre as duas ligas.

Rivalidade fabricada nos Estados Unidos

Finalmente, a razão pela qual San Diego é uma grande opção para a nova equipe: as opções de rivalidades para o futuros são tamanhas. Se usarmos regionalismo como base, as cidades de Los Angeles e San Diego são opostos, perincipalmente nos esportes. É o caso dos Padres de Manny Machado e dos Dodgers de Magic. As duas equipes não se gostam e fica claro quando se enfrentam, um antagonismo muito bem armado por seus atores. O Galaxy é um que, parece estar pronto para a nova rivalidade.

Quem sai perdendo nesse quesito é o Quakes, já que a capital Sacramento, perto da regiao de San Jose ao norte, não conseguiu a vaga desejada. Só resta mesmo a eles a ideia de conquistar a Cali Cup, um torneio imaginário onde as 4 equipes do estado se enfrentam, coroando um campeão regional com um troféu especial para os californianos como eu.

*Celso Oliveira trabalha com marketing e jornalismo, além de residir em Los Angeles.

A opinião do autor não necessariamente reflete a opinião do Território MLS.

(Capa: Reprodução/MLS)