Acordo põe fim a briga judicial entre jogadoras e a instituição do esporte no país. Decisão depende da seleção masculina para ser concluída
Nesta terça-feira (22), a Federação de Futebol dos Estados Unidos (US Soccer) e jogadoras do futebol feminino do país entraram em acordo para que a seleção feminina receba o mesmo salário que o da seleção masculina. O anúncio foi realizado por ambos os lados envolvidos, dando fim a uma briga que dura há anos por igualdade salarial e que ainda envolveu um acordo multimilionário de US$ 24 milhões em bonificações atrasadas, que serão divididos entre atletas, ex-atletas e comissão.
U.S. Soccer and @USWNT are proudly standing together in a shared commitment to advancing equality in soccer. pic.twitter.com/Sp8q7NY0Up
— U.S. Soccer (@ussoccer) February 22, 2022
O acordo depende da ratificação de um novo contrato entre a federação e o sindicato dos jogadores da seleção feminina. Quando finalizado, resolverá todas as reivindicações restantes no processo judicial de discriminação de gênero que 28 membros entraram em 2019.
“Não foi um processo fácil chegar a este ponto, com certeza”, declarou a presidente da US Soccer, Cindy Parlow Cone, em entrevista para o jornal The New York Times. “O mais importante aqui é que estamos avançando e estamos avançando juntos”.
Entretanto, este processo ainda pode levar mais alguns meses. Para que o acordo funcione, a federação busca um acordo coletivo de trabalho com as seleções femininas e masculinas. A associação de jogadores masculinos terá que concordar em compartilhar ou deixar de ganhar milhões de dólares em pagamentos potenciais da Copa do Mundo da FIFA. O órgão máximo que governa o futebol mundial tem pagamentos definidos exponencialmente maiores para a Copa do Mundo masculina do que para o torneio feminino correspondente.
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HISTÓRICO
A luta pela igualdade salarial começou há quase seis anos, quando jogadoras estadunidenses apresentaram uma queixa à Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego acusando o futebol americano de discriminação salarial. Membros-chave da equipe que na época era a atual campeã olímpica e da Copa do Mundo, alegaram receberem apenas 40% do que os jogadores da seleção masculina ganhavam. Atletas importantes como Morgan, Rapinoe, Lloyd, Hope Solo e Becky Sauerbrunn — afirmaram estarem sendo enganadas em bônus, taxas de aparição e até dinheiro para refeições enquanto estavam nos campos de treinamento.
Em resposta, a federação argumentou que os homens trouxeram mais rentabilidade e interesse, portanto, mereciam salários mais altos, mas se desculpou pelo pronunciamento em meio à reação pública.
A partir disso, iniciaram diversos conflitos na mídia e no tribunal. A federação ganhou uma decisão que impedia as atletas de boicotar as Olimpíadas de 2016, que pressionavam por novos contratos.
Em março de 2020, meses após a equipe feminina vencer sua segunda Copa do Mundo consecutiva, os advogados da US Soccer argumentaram em um processo judicial que jogar pela equipe masculina exigia mais “habilidade” e “responsabilidade” do que o equivalente feminino.
“Ver essa flagrante misoginia e sexismo como o argumento usado contra nós é realmente decepcionante”, afirmou Rapinoe na época.
A US Soccer chegou a se desculpar pela atitude e substituiu sua equipe jurídica. Um dia depois, o presidente da federação renunciou e as mulheres definiram o preço por um acordo: US$ 67 milhões. A US Soccer respondeu com uma oferta de US$ 9 milhões.
Em abril de 2020, o Tribunal do Distrito Central da Califórnia rejeitou a ação movida pelo grupo. A decisão foi fundamentada na alegação da US Soccer de que a equipe feminina ganhou mais “tanto em uma base cumulativa quanto em média por jogo” do que a equipe masculina durante os anos cobertos pelo processo.
Desde então, ambos os lados buscavam um acordo para dar fim ao imbróglio judicial. O acordo é uma tentativa da Federação de Futebol dos Estados Unidos de melhorar sua visão no ramo empresarial, visto que a instituição azedou sua relação com seus patrocinadores anteriores e sua reputação.
REPERCUSSÃO
A promessa de fim da desigualdade no esporte foi muito comemorada pelas atletas. A atacante eleita melhor do mundo em 2019, Megan Rapinoe, celebrou a promessa de acordo nas redes sociais. “Quando nós vencemos, todos vencemos”, afirmou.
When we win, everyone wins!
— Megan Rapinoe (@mPinoe) February 22, 2022
Entrevistada pela ABC, a atacante Alex Morgan disse que o acordo é uma vitória para todas as partes envolvidas: “Este é um passo monumental que nos faz sentir valorizadas, respeitadas e repara nossa relação com a US Soccer. Não vejo isso somente como uma vitória para nossa seleção e para o esporte feminino, mas para todas as mulheres em geral.”
No Brasil, o assunto não passou despercebido. A jornalista dos canais ESPN, Mariana Spinelli, uma das maiores entusiastas da modalidade feminina no país, também se pronunciou: “Demorou uma vida, mas aconteceu”, comentou.
Demorou uma vida, mas aconteceu. https://t.co/06yge5ZKmc
— Mariana Spinelli (@marianaspinelIi) February 22, 2022
Capa: (Reprodução/ Twitter USWNT)