Nesta última quarta-feira (30), San Diego Loyal e Phoenix Rising se enfrentaram em partida decisiva pelo grupo B da USL Championship, segunda liga mais importante do futebol profissional dos Estados Unidos. A depender do resultado, a equipe da casa, que é comandada pelo ex-jogador Landon Donovan, se classificaria para os playoffs da competição. Porém, este aspecto esportivo ficou em segundo plano, pois o jogador do Loyal, Collin Martin, que é assumidamente homossexual, acusou de homofobia o atleta do time rival, Junior Flemmings.
No Toreto Stadium, o San Diego Loyal, que era o terceiro colocado no grupo, estava vencendo o líder Phoenix Rising por 3 a 1, quando o primeiro tempo de partida acabou em confusão, afinal, Martin foi expulso um pouco antes do tempo regulamentar, indignado e acusando Junior Flemmings de homofobia. O jogador de 25 anos, com passagens pela Major League Soccer em Minnesota United e Colorado Rapids, avisou a equipe de arbitragem do confronto que tal situação havia ocorrido. Mesmo assim, a atitude que os comandantes do jogo tiveram foi de expulsar o próprio Martin por reclamação e ignorar as acusações do jogador e de toda a equipe do técnico Landon Donovan.
Flemmings, que estava na outra ponta desta situação, negou ter feito esse tipo de injúria em uma longa postagem no Twitter e disse que está “desapontado”, já que segundo ele foi “atacado e ridicularizado na internet, sem oportunidade de se defender”.
Tendo discutido com todo o grupo de jogadores no vestiário, o técnico Landon Donovan e sua equipe chegaram a conclusão no intervalo de partida que não iriam voltar a campo para disputar o segundo tempo caso Flemmings não fosse removido do jogo. Esta decisão, inclusive, foi comunicada ao árbitro da partida e ao técnico do Phoenix Rising, Rick Schantz, que não concordou com os termos e por isso a equipe de San Diego cumpriu com sua palavra e não atuou, em protesto contra a homofobia e em solidariedade a Collin Martin.
Donovan disse que o árbitro admitiu ter ouvido a calúnia, mas segundo ele, “estava em outro idioma” e por isso “não conseguiu interpretá-lo” e, portanto, “não pôde expulsá-lo”.
O técnico Schantz, o árbitro e Donovan se envolveram numa discussão e neste diálogo, o técnico do Phoenix disse as seguintes palavras flagradas em vídeo exibido no SportsCenter dos EUA: “Há quanto tempo você joga futebol?”, numa frase desferida ao próprio Donovan, com uma possível intenção de tirar o peso da injúria.
Em resposta ao vídeo, Schantz também emitiu comunicado e disse que “não estava questionando o comportamento de Donovan” e que “não apoia injúrias homofóbicas”. O treinador está sendo investigado pela sua conduta, segundo o Phoenix Rising.
Já o San Diego Loyal, em seu site oficial, comunicou que “os jogadores e os treinadores de ambas as equipes ouviram a calúnia, mas os árbitros não fizeram nada a respeito. Em vez disso, Martin recebeu um cartão vermelho, que mais tarde foi impugnado. Flemmings supostamente usou palavras homofóbicas quando o Phoenix Rising avançou em campo com contra-ataques, depois de Samuel Stanton ter marcado para os visitantes um minuto antes.
Em outro comunicado, Landon Donovan disse que o time abriu mão de algo esportivo que traria benefícios também esportivos em prol de algo que já marcou a história como um grande ato: “Para o nosso grande crédito, eles (jogadores) foram muito claros naquele momento, estavam desistindo de todas as esperanças de chegar aos playoffs, embora estivessem vencendo um dos melhores times da liga com folga. Tenho muito orgulho deste grupo e estou muito orgulhoso desta organização,” disparou o ídolo norte-americano.
No entanto, este episódio não foi o único que envolveu o San Diego Loyal na temporada, afinal, na semana passada, em jogo contra o LA Galaxy II, que terminou após expulsão de Omar Ontiveros, o jogador do rival, que falou injúrias raciais para com um atleta Elijah Martin, do Loyal, foi expulso posteriormente por dois cartões amarelos no desenrolar da partida.
A USL investigou este caso e puniu Ontiveros com seis jogos de suspensão e o próprio LA Galaxy II encerrou o contrato com o atleta. Já Landon Donovan e sua equipe, após este ocorrido contra o time da Califórnia, disse as seguintes palavras: “Passamos por um incidente muito difícil na partida contra o LA e juramos a nós mesmos, à comunidade, aos nossos jogadores, à USL, que bateriamos de frente com o preconceito, palavras homofóbicas, coisas que não pertencem aos nossos jogos. Tanto que fizemos uma declaração em nossas placas, fizemos uma declaração dizendo: ‘Eu agirei, eu falarei.’ Na semana passada, nosso único arrependimento foi que deveríamos ter feito algo no momento em que Elijah foi abusado racialmente. Esse foi o nosso pesar. De nossos jogadores, de mim, eu gostaria de ter feito algo”, concluiu.
Em mais um importante comunicado, a USL admitiu estar investigando ocorrido no jogo entre Loyal e Rising: “Estamos cientes do suposto uso de calúnia homofóbica na partida entre San Diego Loyal SC e Phoenix Rising FC. Linguagem suja e abusiva de qualquer tipo não tem absolutamente nenhum lugar em nossa sociedade e não será tolerada em partidas da USL. Uma investigação está em andamento para determinar os fatos que cercam o incidente e mais informações serão fornecidas assim que estiverem disponíveis. ”
Por fim, um personagem importante em todo esse movimento é Landon Donovan, dito por muitos como o principal jogador da história do Soccer nos EUA, que não só nessas duas últimas partidas do San Diego Loyal foi engajado em lutas pelas minorias, mas na época em que ainda era jogador, no Los Angeles Galaxy, quando Robbie Rogers assumiu sua orientação sexual, Donovan foi um dos principais responsáveis por ajudar o lateral-esquerdo a se sentir confortável dentro do clube, já que é de conhecimento comum que a sociedade do futebol infelizmente ainda é avessa e intransigente com questões como racismo e principalmente homofobia.
(Capa: Reprodução Twitter/ San Diego Loyal)