Coluna do Guga: a tentativa de metamorfose do Portland Timbers

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Na 12ª edição da ”Coluna do Guga”, assinada pelo jornalista Gustavo Demétrio, o leitor terá a análise sobre a tentativa de mudança do estilo de jogo do técnico Giovanni Savarese, do Portland Timbers, para temporada 2021

Coluna do Guga

Na última terça-feira (6), o Portland Timbers empatou o jogo de ida das oitavas de final da CONCACAF Champions League contra o Marathón/HON, conseguindo vantagem para classificação, pelos gols feitos fora de casa, no placar de 2 a 2. Todavia, para além disso, um ponto a ser discutido é a retomada da clara tentativa do treinador Giovanni Savarese em mudar seu pragmático estilo que o caracterizou nos últimos campeonatos, com uma equipe bem mais ofensiva.

Em Oregon desde 2018, o comandante venezuelano esteve a frente da equipe em três temporadas completas, com 2021 sendo a sua quarta. No ano em que foi contratado, a média da posse de bola – quesito que será utilizado como o divisor de um time propositivo e um reativo neste texto – foi de 46%, a quinta mais baixa na MLS. Naquela disputa, o time alcançou às finais da competição, sendo derrotado para o Atlanta United, equipe que teve a maior posse na temporada, inclusive.

Em 2019, no entanto, Savarese esboçou uma tentativa de mudar seu estilo, porque a sensação que pairou após o vice-campeonato foi de que um passo adiante precisava ser dado para encarar times mais galácticos nas. Por isso, a média de posse subiu para 50%, a nona maior da liga empatada com o LA Galaxy, mas aí os resultados não vieram como consequência. Classificação na ”bacia das almas” para os playoffs e eliminação na primeira rodada do mata-mata para o Real Salt Lake. Essas temporadas distintas colocaram o técnico em um dilema: parar a tentativa de mudança que daria frutos a longo para buscar bater de frente com as principais franquias daqui algum tempo ou se apegar ao seu ”porto seguro”, que deu o melhor resultado. Ele preferiu a segunda opção.

Em 2020, voltando ao pragmatismo, a posse, claro, também baixou, foi quarto time com o menor quesito na liga. Porém, as vitórias vieram novamente. Título do ”MLS Is Back” e uma campanha boa na temporada regular, sendo terceiro colocado, apesar da eliminação nos playoffs na primeira rodada. Ao mesmo tempo, a sensação aos espectadores dos Timbers era de que aquele time poderia mais no âmbito do nível das atuações, devido à nomes com muita qualidade como Sebastian Blanco e Diego Valeri no elenco. O venezuelano, sem dúvida alguma capacitado para função, sentiu o mesmo.

 

(Foto: Reprodução/ SIte Portland)
(Foto: Reprodução/ Site Portland)

 

Apesar de somente três amistosos preparatórios realizados em 2021 e um único jogo oficial, justamente na CONCACAF Champions League, é claro que Savarese retornou ao pensamento de mudar o perfil que coloca esta equipe para jogo. Desde os reforços que foram contratados para suprir lacunas de transferências ao fim da temporada passada isso já era visível. Os laterais Van Rankin, mexicano, e Claudio Bravo, argentino, têm características diferentes do que os que estavam por lá – mais construtores, associativos, ofensivos. O treinador tenta novamente essa mudança, porque sabe que é possível alinhar resultados com atuações mais brilhantes, no sentido da beleza do jogo. Por isso, respeitar o processo é importante e é o que a diretoria do Portland está fazendo.

Com 58% de posse contra o Marathón, com Van Rankin por dentro, sendo criador, e com Claudio Bravo mais agudo e com a equipe toda envolta em uma mecânica de jogo direcionada ao como desempenhar alguma ação em função manutenção da bola, o Portland Timbers parece ter amadurecido, subido um degrau. Óbvio, foi só um jogo, o adversário não era dos melhores, mas as estruturas foram colocadas ao sol. Isso dá mais consistência à análise.

Além disso, é importante ressaltar que Giovanni Savaresse não era ”retranqueiro” e sim reativo. Inclusive, na reatividade é possível controlar um jogo de futebol, mesmo tendo menos posse, só que isso é mais arriscado, mais coisas são necessárias para que tudo convirja naquele ponto. Na maior parte de sua carreira, Diego Simeone é mestre e um exemplo disso. O que se fala aqui, por então, é que – literalmente – um técnico passa a propor ter domínio das partidas pela posse, e por isso, com a qualidade individual de seu plantel aliada, seja possível aumentar a quantidade de confrontos dominados. A discussão não tem nada que diz respeito sobre se algum estilo é melhor que o outro.

(Capa: Reprodução/ Arte Território MLS)