Coluna do Guga: Montréal muda de nome e escudo para não fechar as portas

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Na manhã desta quinta-feira (14), o então Montréal Impact oficializou a mudança de nome para Club de Foot Montréal. Nesta segunda edição da ”Coluna do Guga”, assinada pelo jornalista Gustavo Demétrio, o leitor terá a análise sobre os acertos e os erros da franquia canadense nesse processo e o que se pode esperar para o futuro do time a partir de agora.

O CF Montréal, em seus nove anos na Major League Soccer até aqui, nunca fez parte da elite futebolística da liga.

Em nenhum ”Power Ranking” feito por analistas do Canadá, Estados Unidos ou Brasil, antes de qualquer temporada, se colocava o time entre as principais potências do campeonato. E com razão. Apesar de algumas esporádicas estrelas mundiais representando suas cores, como Alessandro Nesta e Didier Drogba, a equipe não tinha um elenco que o credenciasse a bater de frente com outras forças.

Todavia, isso não inviabilizou que existisse um bom nível de qualidade em seus times. Da primeira temporada dos canadenses na liga, em 2012, até 2016, quando chegaram a final de Conferência pela primeira vez, foram quatro participações seguidas nos Playoffs, além de um vice-campeonato na CONCACAF Champions League, sempre com bons times, com jogadores como Marco Di Vaio, Donadel, Bernardello, Bernier, Ignácio Piatti e Laurent Ciman.

Joey Saputo, dono da equipe e empresário ítalo-canadense de diversos ramos, com fortuna atual avaliada em cerca de US$ 5 bilhões (dólares) pela revista ”Le Soleil Numérique”, investiu pesado na sua franquia neste período. Reformou a casa do time, o Saputo Stadium, em obra avaliada em US$ 16 milhões, além de uma injeção total de quase US$ 100 milhões na infraestrutura do clube, segunda a ”MixteMagazine”.

No entanto, o também proprietário do Bologna FC/ITA, diminuiu severamente seus investimentos de 2016 para cá. Em uma entrevista com vários jornalistas canadenses em 2018, Saputo disse que o Montréal dá cerca de US$ 11 milhões de prejuízo por temporada, além de ter reclamado dos impostos municipais em relação ao estádio e ao centro de treinamento, os quais não são de sua propriedade totalmente, já que o terreno é da prefeitura da cidade.

Segundo ele, são US$ 2 milhões de impostos pagos respectivos a concessão dos locais. “Se eu investir no estádio, que não é meu, terei que pagar mais IPTU e não valeria a pena. Pagamos 2 milhões de impostos municipais por ano por um estádio no qual investi 60 milhões durante a construção. O estádio Saputo não é meu. […] Demos 60 milhões para que Montreal tivesse um estádio. Hoje, sou tributado por uma doação! Tribute-me pelo meu negócio, mas não pelo que eu doo”, disse.

Porém, a situação dos impostos não é exatamente da forma que ele expressou, e também o sentido desta coluna não é discutir isso em particular a fundo, por isso no link anexado no parágrafo anterior é possível entender este problema e suas complexidades na matéria da ”Radio-Canada”.

Então, argumentando perdas financeiras para diminuir os seus investimentos, o dono do Montréal viu seu time passar de um ”intermediário que sempre chega” para um time sem nenhum brilho, com poucas ideias e que somente esteve em um Playoff nas últimas quatro temporada, justamente em 2020.

Enquanto isso, presenciou seu rival compatriota, o Toronto FC, ganhar a MLS Cup, chegando a outras duas finais, além dos títulos de Supporters’ Shield e três Canadian Championship seguidas.

Esse panorama, obviamente, fez com que a base de fãs do time se engajasse menos, exemplificada na diminuição da média de público, que passou em 2016 em pouco mais de 20 mil pessoas (capacidade máxima do estádio) para 16 mil em 2019, a última temporada com expectadores nas arenas da MLS, devido a pandemia em 2020, segundo números do Transfermarkt.

Na temporada passada, inclusive, a primeira do técnico Thierry Henry, apesar da classificação aos Playoffs depois de três anos, a equipe encerrou a temporada com mais derrotas que vitórias. Foram 16 revezes, enquanto somente nove triunfos em 29 partidas oficiais. O saldo de gols também ficou negativo, pois marcaram 38 vezes e sofreram 50 tentos.

Com uma equipe jovem, com média de 23.4 anos, um treinador que recém completou sua primeira temporada inteira na carreira, a situação não deve mudar para 2021.

Em outras palavras, o Montréal não é confiável nem dentro e nem fora de campo. Para tentar reverter essa situação, no entanto, a mudança de nome vem para tentar ser um respiro nos rumos do clube, para se aproximar dos fãs canadenses de Québec que falam francês, para serem mais apegados aquela comunidade, o que é um movimento certeiro.

Porém, quando seu dono é Joey Saputo, por mais que haja um maior engajamento a partir de agora por parte dos fãs com as mudanças, há chance de tudo voltar para um período de vacas magras, e sendo assim, para afundar a franquia de vez, pois se o ”rebuild” já é uma tentativa de salvar o que ficou quase insustentável, uma outra potencial mudança futura seria a consequente dissolução do atual CF Montréal, já que se o atual dono já encontra dificuldades para tocar o negócio, por quê outros empresários irão se arriscar e assumir a marca do clube? Saputo pode até dar uma de Antony Precourt e abandonar a sua terra e investir em outros mercados, há muitas variáveis, mas uma coisa é certa: tudo tem que dar certo nesse processo para minimizar o risco de extinção do Montréal que conhecemos.

A ”Coluna do Guga” vai ao ar toda quinta-feira no Território MLS e traz opinião e informação sobre o futebol da MLS.

(Capa: Reprodução/ Site Montreal Impact)